Você já parou para pensar que, enquanto faz uma simples pergunta ao ChatGPT ou gera uma imagem com o Ideogram, há litros de água sendo utilizados nos bastidores?
Pode parecer estranho, mas o uso das inteligências artificiais não custa apenas energia elétrica, elas também consomem uma quantidade impressionante de água.
Esse é um dos aspectos menos comentados em relação à IA, mas que começa a chamar atenção de cientistas e especialistas em sustentabilidade. A cada novo modelo lançado, o impacto ambiental cresce, levantando questionamentos sobre os custos invisíveis do avanço tecnológico.
Neste artigo, você vai entender por que as inteligências artificiais usam tanta água, como esse processo funciona, quais empresas mais consomem e o que está sendo feito para reduzir esse impacto ambiental.
Por Que as IAs Consomem Tanta Água?
O “coração” da inteligência artificial está nos data centers, grandes instalações cheias de servidores que processam e armazenam dados em tempo real. Esses servidores trabalham de forma intensa e contínua, realizando bilhões de cálculos por segundo. Todo esse esforço gera uma quantidade enorme de calor, e para evitar que os equipamentos superaqueçam, é necessário manter uma temperatura estável. É aí que entra a água.
Em boa parte dos data centers, a água funciona como um “ar-condicionado natural”: ela circula por tubulações, absorve o calor gerado pelos servidores e depois é resfriada novamente para repetir o processo. Isso acontece 24 horas por dia, 7 dias por semana. E quanto mais complexos e poderosos são os modelos de IA, como o ChatGPT, o Gemini ou o Claude, maior é o esforço computacional e, consequentemente, maior o consumo de água e energia para resfriar tudo isso.
Um estudo da Universidade da Califórnia estimou que cada conversa de 20 a 50 interações com uma IA generativa pode consumir cerca de meio litro de água. Pode parecer pouco, mas quando milhões de pessoas no mundo inteiro fazem o mesmo todos os dias, o impacto se torna gigantesco.
Como o Treinamento das IAs Consome Milhões de Litros de Água
Antes de uma inteligência artificial ser capaz de gerar textos, imagens ou respostas com tanta precisão, ela precisa passar por uma fase intensa de treinamento, e é justamente nesse processo que o consumo de água dispara.
O treinamento de uma IA é como ensinar um cérebro digital a pensar. Para isso, são usados supercomputadores que processam trilhões de dados: textos, imagens, vídeos e códigos. Esse processo pode durar semanas ou até meses, exigindo uma quantidade gigantesca de energia elétrica e, consequentemente, muita água para resfriar os equipamentos.
Durante o treinamento, os servidores funcionam no limite. Cada cálculo, cada ajuste e cada atualização do modelo geram muito calor, e, como vimos, o calor precisa ser dissipado para que as máquinas não parem. E isso significa usar milhões de litros de água apenas para manter a temperatura sob controle.
Pesquisadores da Universidade de Massachusetts estimaram que treinar um modelo de IA de última geração pode consumir até 700 mil litros de água, o equivalente ao que mil pessoas beberiam em um ano inteiro. E isso é apenas para um único modelo. Grandes empresas de tecnologia, como Microsoft, Google e OpenAI, treinam diversos modelos simultaneamente, multiplicando o impacto ambiental.
Vale lembrar que nem toda essa água é realmente “desperdiçada”. Parte dela é reutilizada em sistemas de recirculação, mas uma fração significativa acaba evaporando durante o processo de resfriamento e precisa ser constantemente reposta.
A Inteligência Artificial Pode Ser Sustentável?
Diante de todo esse cenário, surge uma pergunta inevitável: é possível tornar a inteligência artificial mais sustentável? A resposta é sim, mas o caminho ainda está sendo construído.
Empresas de tecnologia e centros de pesquisa já estão se mobilizando para reduzir o impacto ambiental dos sistemas de IA. Uma das principais estratégias é repensar como os data centers são alimentados e resfriados. Em vez de depender de grandes volumes de água doce, algumas companhias têm investido em refrigeração a ar, que utiliza o vento natural e ventiladores de alta eficiência para manter os servidores frios, reduzindo drasticamente o consumo hídrico.
Outra frente promissora é a criação dos data centers submarinos. Esses centros de processamento são instalados em grandes estruturas metálicas submersas no oceano, onde a água fria ajuda naturalmente a manter a temperatura dos servidores sem a necessidade de milhões de litros de água doce para resfriamento.
A Microsoft, por exemplo, testou essa ideia no projeto Natick, instalando um data center no fundo do mar da Escócia. O resultado foi animador: a estrutura subaquática apresentou maior eficiência energética, menos falhas técnicas e um impacto ambiental muito menor em comparação aos centros tradicionais.
Além disso, há um movimento crescente para alimentar esses data centers, tanto terrestres quanto submarinos, com fontes de energia renovável, como solar, eólica e até energia gerada por ondas e marés. O objetivo é diminuir a dependência de usinas que consomem grandes volumes de água.
Outro ponto importante é o avanço na eficiência dos próprios modelos de IA. Pesquisadores e engenheiros estão desenvolvendo técnicas de treinamento que exigem menos dados e menos tempo de processamento, reduzindo o gasto energético e o impacto ambiental. Em outras palavras, a ideia é fazer mais com menos.
Também cresce a pressão por transparência ambiental. Especialistas defendem que as grandes empresas divulguem dados sobre o consumo de água e energia de cada modelo de IA, permitindo que governos e consumidores cobrem práticas mais sustentáveis.
A boa notícia é que a discussão sobre sustentabilidade na inteligência artificial está apenas começando. Assim como a tecnologia evolui rapidamente, as soluções para torná-la mais ecológica também estão avançando.
O Que Nós, Usuários, Podemos Fazer?
Quando falamos sobre o enorme gasto de água das inteligências artificiais, é fácil imaginar que a responsabilidade está apenas nas mãos das big techs. Mas a verdade é que nós, usuários, também fazemos parte dessa equação.
Assim como qualquer outra tecnologia, o importante é usar de forma consciente e equilibrada. Podemos, por exemplo, evitar gerar dezenas de versões do mesmo conteúdo sem necessidade, fazer perguntas mais objetivas e aproveitar melhor cada interação. Pequenas atitudes, quando adotadas em escala global, ajudam a reduzir a demanda por processamento e, consequentemente, por recursos naturais.
Por fim, é importante lembrar que a inteligência artificial pode ser uma grande aliada da sustentabilidade. Ela já está sendo usada para otimizar o uso da água na agricultura, prever desastres ambientais e ajudar na criação de soluções energéticas mais eficientes. Ou seja, a mesma tecnologia que consome recursos pode, e deve, ser usada para proteger o planeta.
Repensando o Verdadeiro Custo da Inteligência Artificial
A discussão sobre o consumo de água pela inteligência artificial nos faz refletir sobre o preço real do progresso tecnológico. Por trás de cada resposta rápida e de cada imagem gerada em segundos, existe uma complexa infraestrutura que consome energia, recursos e, principalmente, água, um bem cada vez mais valioso.
Mas essa realidade não precisa ser um obstáculo. Pelo contrário, ela pode ser um ponto de virada. À medida que cresce a consciência sobre o impacto ambiental das IAs, também aumentam os esforços para torná-las mais sustentáveis. Das inovações em resfriamento até o uso de energias renováveis, o futuro aponta para uma tecnologia mais inteligente, não apenas em capacidade, mas também em responsabilidade.
Como usuários, temos um papel fundamental nesse processo. Usar a IA de forma consciente, cobrar transparência das empresas e apoiar soluções ecológicas são passos simples, mas poderosos. Afinal, o verdadeiro avanço acontece quando a tecnologia evolui junto com o cuidado pelo planeta.